Pov de Edward
A monotonia dos dias no covil de Aro estava começando a corroer minha paciência. Eu suportava a repetição incessante das mesmas discussões antigas, os mesmos conselhos desgastados, sem nunca encontrar uma saída. Aro e os outros anciões haviam se tornado um fardo pesado, uma carga que me forçava a jogar um jogo que eu nunca escolheria jogar. A decisão de me afastar da mansão era necessária para preservar minha sanidade.
Sair para caçar era uma forma de escapar da constante pressão. Mesmo vivendo sob as ordens de Aro, eu e minha família seguimos o caminho do vegetarianismo, evitando o sangue humano. A nossa batalha, até então, era contra outras criaturas sobrenaturais e os lobos que se rebelavam contra a nossa espécie.
Eu me lancei para a floresta, correndo com a velocidade que só um vampiro pode atingir. A sensação de liberdade e a brisa fria eram um alívio temporário. No entanto, minha tranquilidade foi abruptamente interrompida. Um cheiro doce, inconfundível, preencheu minhas narinas: Bella. O perfume dela era ao mesmo tempo sedutor e perturbador. Decidi seguir o rastro, determinado a descobrir o que estava acontecendo com ela.
À medida que avançava, outro aroma começou a misturar-se ao dela, um cheiro animal que me causava uma irritação crescente. Eu segui o cheiro até uma cachoeira, mas a cena que eu temia estava ausente. A lua cheia lançava uma luz prateada sobre a paisagem, intensificando a minha inquietação. Fechei os olhos e me concentrei, tentando visualizar Bella. Uma imagem começou a formar-se em minha mente: ela estava junto a um dos lobos, seu corpo próximo ao dele de maneira inaceitável.
Eu rosnei, dominado pelo ódio e pela frustração. A ideia de ver Bella ao lado de um ser que eu considerava inferior e desprezível me consumia. A raiva me fez rosnar em voz alta:
— Ela é minha, seu cachorro sarnento! Como você ousa tocá-la?
De repente, Bella apareceu, sua voz suave cortando a tensão.
— Edward, o que você está fazendo aqui?
— Não dê ouvidos a ele, Bella! Ele está te enganando! - A voz do lobo ecoou, carregada de um tom defensivo.
— Me enganando? Por quê? - Bella perguntou, sua voz tremendo com uma mistura de medo e confusão.
— Porque ele tem que te matar!
O lobo avançou em minha direção, mas quando estava prestes a confrontá-lo, a cena se desfez. Bella e o lobo desapareceram, como se nunca tivessem estado ali.
Eu abri os olhos, desorientado e furioso. O que acabara de acontecer? O vazio que restou era perturbador. Eu precisava urgentemente entender o que estava acontecendo. A única pessoa que poderia me dar respostas era Carlisle. A noite foi passada em agitação, mergulhado em uma conversa intensa com Carlisle sobre a visão, tentando descobrir a verdade por trás desse enigma perturbador.
Quando a manhã chegou, eu estava decidido a confrontar Bella novamente, precisava vê-la e entender a conexão que eu sentia com ela, que agora estava misturada com a presença desconfortável dos lobos. Minha mente estava cheia de dúvidas e angústias. Havia algo mais sombrio à espreita, algo que eu precisava desvendar. E eu estava pronto para fazer o que fosse necessário para proteger Bella e descobrir a verdade.
*
Pov de Bella
Eu não conseguia tirar o sonho que tive com Jacob da cabeça. Era como se tivéssemos nascido um para o outro, mas a intensidade era perturbadora. E então, Edward apareceu do nada, com ódio nos olhos. Mas como eles se conheciam?
Esse mistério estava me enlouquecendo. Eu devia ser uma aberração mesmo. Em meio ao meu conflito interno desesperador, senti alguém colocar a mão no meu ombro, me fazendo pular.
— Nossa! — Berrei, com os nervos à flor da pele.
— Me desculpe, amor.
— Kalil, você não tem mais o que fazer? — Disse, irritada.
— Eu vim te convidar pra...
— Se liga, cara! Eu não quero nada com você! Será que você não entende? Você acha que eu sou como essas garotas que babam por você? Errou feio! — Gritei, já de saco cheio dele me perturbando com cantadas baratas.
— Ninguém humilha Kalil Kesller, está me ouvindo? — Ele disse, pegando meu rosto com brutalidade.
— Me solta, seu verme!
De repente, senti ele me soltando com violência e caindo no chão.
— Nunca mais ouse tocar nela! — Ouvi Jacob gritar, com ódio na voz.
— Não se mete, babaca! — Kalil disse, levantando-se e indo pra cima de Jacob. — Ninguém te chamou pra conversa!
Jacob tremia, e algo em mim me fez entrar na frente dos dois, colocando minha mão no rosto de Jacob.
— Jake, se acalme. Eu estou bem.
— Ainda não terminamos, Bella.
— Você já terminou, sim! Se tiver alguma coisa pra falar, diz pra mim!
— E você é quem pra tomar as dores dela, seu babaca?
— Sou o namorado dela!
Kalil se calou, ele estava em choque com o que ouviu, então ele apenas saiu. Quando percebi, havia se formado uma roda em volta de nós, todos nos olhando.
— Você está bem? — Jacob perguntou, preocupado, colocando a mão no meu rosto.
— Sim, e você?
— Estou bem, sim. — Ele me abraçou. — Se aquele cara tivesse feito algo com você, nem sei o que faria. — Disse, trincando os dentes.
— Já passou. Obrigada por me defender.
— Você é minha vida, Bella. Eu nunca deixaria nada de ruim te acontecer. — Ele deu um beijo em minha testa.
Fomos interrompidos por Ângela e Marcelo.
— Nossa amiga, você está bem? — Ângela perguntou, apavorada.
— Estou, graças ao Jacob. — Respondi, sem graça.
— Aquele abusado não te machucou, né? — Marcelo disse preocupado.
— Não, estou bem mesmo.
— Será que vocês dois poderiam ficar de olho nela pra mim? — Jacob perguntou, todo fofo.
— Pode deixar. - Ângela disse sorrindo.
— Nossa, desculpa gente... Jacob, esses são meus amigos Ângela e o primo dela, Marcelo.
Depois de se cumprimentarem, Jacob se despediu com um selinho rápido. Percebi que a roda em volta de nós havia se dispersado, mas as pessoas ainda me olhavam.
— Nossa! — Ângela disse em choque. — O que foi isso?
— Eu também não sei. — Respondi, sem graça. — Foi tudo tão rápido e tão estranho que nem eu sei explicar.
— Vocês estão namorando mesmo? — Marcelo perguntou, tristemente.
— Não. Ele disse aquilo pro Kalil se manter longe de mim.
— Vamos. O sinal já tocou. — Ângela disse, me puxando pela mão.
O restante da aula foi tranquilo, exceto pelos olhares feios de Kalil. Eu estava perdida em pensamentos sobre Jacob e o sonho quando Ângela me chamou.
— Amiga, me conta tudo sobre o Jacob. Eu ainda não entendi.
— Nem eu entendo, Ângela. É tudo surreal pra mim. Apesar de eu ser uma aberração...
— Conta logo!
Contei como conheci Jacob, sobre o sonho com ele e Edward, e o hematoma no meu ombro.
— Caramba, amiga! Que coisa louca! O que você vai fazer agora?
— Conversar com o professor Kesller e depois com o Jacob.
— Fala a verdade... Foi apenas um selinho, mas você gostou, né? — Ângela disse, rindo.
— Sim, gostei. Mas tudo isso está me deixando louca, Ângela.
O segundo sinal tocou e fomos para a sala do professor Kesller. Assim que chegamos, ele me puxou de canto para conversar sobre o que havia ocorrido com seu filho mais cedo. Depois de se desculpar, contei sobre Jacob e o sonho que tive.
— Você está falando de Jacob Black?
— Sim, você o conhece?
— Ele é da tribo Quileute... — Fernando disse, pensativo. — Agora as peças estão se encaixando.
— Por quê? — estranhei.
Fernando me contou sobre a lenda dos Quileutes e o papel de Jacob nessa história. Segundo ele, Jacob seria uma espécie de lobisomem, e por ser bisneto de Ephraim Black, isso o tornava uma espécie de Alfa. Ele mencionou uma lenda que dizia que os lobos existiam para manter o equilíbrio no mundo sobrenatural entre lobisomens, vampiros e humanos. A guerra entre eles existia há muito tempo sobre o apocalipse final, um anjo que poderia significar a destruição dos mundos. Um ser místico que, em mãos erradas, traria horror. A guerra maior era pessoal; o anjo apareceria para acabar com a paz mental e emocional entre os clãs, pois os descendentes de ambos os lados teriam sentimentos por esse ser. A guerra se intensificaria: um lado queria a destruição desse anjo, o outro queria possuí-lo para ter controle total e absoluto da guerra, mas no meio disso havia a disputa pelo amor desse anjo.
Enquanto Fernando falava, eu me perguntava: será que eu era esse anjo? Mas onde estavam minhas asas? Não conseguia processar todas as informações. Era estranho demais, mas isso explicava por que eu tinha 50 anos no corpo de uma garota de 18.
Depois de conversarmos bastante, Fernando começou sua aula e eu fui me sentar. Não consegui prestar atenção na aula; precisava conversar com Jacob sobre isso, mas teria que ter cautela. Se ao menos soubesse onde encontrar Edward... Na hora do almoço, preferi ficar sozinha. Peguei duas maçãs e me sentei sob uma árvore, perdida em pensamentos. Jacob se aproximou e me deu um beijo no rosto, me assustando.
— Ai que susto! — Disse, pondo a mão no peito.
— Desculpe. — Jacob se sentou ao meu lado. — Aquele cara mexeu com você de novo?
— Não. Na verdade, nem o vi. — Menti, não queria mais confusões.
— Que bom. — Ele sorriu, aliviado.
— Obrigada por me defender. Já fazia tempo que ele estava no meu pé.
— Não foi nada. Agora ele vai pensar duas vezes antes de mexer com você.
— Tomara mesmo. — Disse, lembrando do beijo que ele havia me dado.
— Você vai ao luau?
— Luau? Mas não foi ontem? — estranhei.
— Ontem algumas pessoas se reuniram na praia... Provavelmente alunos da faculdade. Hoje é o luau de verdade... Só o pessoal de La Push e alguns amigos.
— Não sei...
— Vai ser legal. — insistiu. — E se tiver medo, eu posso te proteger.
— Não sei... — Eu disse, pensativa. Estava doida para aceitar, mas tinha medo.
— Não se preocupe, eu estarei ao seu lado. Se você quiser, pode dormir na minha casa. Assim, você curte mais a festa.
— Tudo bem, então.
— Ótimo, passo pra te pegar às 7 horas. — Ele pegou minha mão. — Mas e aí, o que te trouxe pra Forks?
— Meus amigos, Ângela e Marcelo. Só tenho eles e os considero minha única família.
— Por quê? Onde estão seus pais?
— Meu pai eu nunca conheci, e minha mãe morreu no parto. Fui criada por um amigo dela, mas ele também já morreu.
— Nossa, sinto muito.
— Tudo bem, isso já faz muito tempo. E você?
— Moro com meu pai em La Push. Tenho duas irmãs, mas elas não moram com a gente. Minha mãe morreu quando eu era pequeno, num acidente de carro. Meu pai ficou paraplégico. Meus amigos são todos da reserva e...
— Que legal, você é índio! — disse, tentando entrar no assunto.
— Sim, sou um Quileute.
— Deve ser legal viver com lendas todo o tempo, né? Acho isso o máximo.
— Depende.
— Do quê?
— Por um lado, é legal, crescemos ouvindo muitas histórias. Por outro lado, quando crescemos, vemos que as coisas não são bem como pensávamos. Temos responsabilidades, e eu não gosto muito dessa parte.
— Por quê? Qual é a lenda da sua tribo?
Jacob contou apenas o principal: os Quileutes se transformavam em lobos para defender os humanos dos frios. Tentei me aprofundar mais, mas ele sempre dava um jeito de sair das minhas perguntas. O sinal bateu.
— Temos que ir. — Disse, triste de repente.
— O que acha de matarmos aula?
— Gostei da ideia. — Disse, sorrindo.
— Então vamos. — Ele levantou-se e pegou minha mão.
Mesmo depois do que Fernando me disse sobre Jacob e as lendas Quileutes, não estava com medo. Queria passar mais tempo com ele, como se uma força nos unisse. Fomos cada um em seu carro, pois detesto depender dos outros para me locomover. Primeiro fomos para minha casa, pois precisava pegar uma roupa. Assim que chegamos, fui logo entrando e não demorou muito para que ele entrasse também.
— Sua casa é bonita. — Ele olhou ao redor.
— Sou péssima com decorações. — Disse, timidamente. — Fica à vontade. Vou só pegar uma roupa.
Fui para meu quarto escolher uma roupa. Olhava as peças no guarda-roupa quando Jacob se aproximou por trás, colando seu corpo ao meu, colocando as mãos na minha cintura e encaixando o queixo no meu pescoço.
— Quer que eu te ajude? — Disse, com a voz sensual no meu ouvido, me arrepiando inteira.
— E-eu...! E-eu...! — Disse, nervosa.
— Relaxa, gata. — Ele beijou meu pescoço. — Eu não mordo... A não ser que você me peça.
— J-Jake...! — Tentei falar, atrapalhada.
— O que acha desse vestidinho? — Ele disse, mudando de assunto e mostrando um vestido branco com algumas estrelas pequenas pretas de tecido leve.
— E se a noite esfriar?
— Eu te esquento, não se preocupe. — Ele sorriu. — Tenho certeza de que ficará linda.
Jake pegou o vestido do cabide enquanto eu fui até a gaveta pegar uma peça íntima branca. Quando percebi, Jake estava atrás de mim novamente.
— Usa essa. — Ele pegou uma calcinha branca com pequenos detalhes em vermelho.
Na hora senti meu rosto esquentar. Provavelmente estava vermelha; ele sabia me deixar sem graça.
— Ficará linda em você.
Quando me virei para pegar a peça, ele me abraçou. Ficamos apenas nos olhando até que ele me beijou. O beijo começou calmo e carinhoso, mas foi ficando cada vez mais intenso e urgente. Até que meu celular começou a tocar, quebrando a magia do momento.
Peguei o celular na mochila e vi que a ligação era restrita.
— Alô. — Disse, tentando controlar a voz.
— Oi, Bella.
— Quem está falando?
— Já se esqueceu de mim? Sou eu, Edward.
— Como conseguiu meu número?
— Quero te ver agora. Sei que você não está na faculdade.
— Pra mim não dá, estou ocupada e... Como sabe disso?
— Sei também que você não está sozinha agora.
— Você anda me vigiando? - Eu disse visivelmente nervosa.
— Preciso de você, Bella.
— O que foi? — Jacob perguntou.
— Podemos nos ver amanhã...
— Não! Quero te ver agora, antes que seja tarde demais. — Ele disse, com a voz raivosa.
— Tarde demais pra quê? — Eu realmente não entendia qual era a dele.
— O Black não é quem diz ser... Ele é perigoso.
— Você conhece o Jake? — estranhei.
Vendo como eu estava nervosa, Jake pegou o celular da minha mão.
— Fique longe dela, entendeu?
— Você me atravessou uma vez... Não vou cometer o mesmo erro novamente.
— Se aproxime dela que eu arranco sua cabeça!
— Jake! — Eu pus a mão no rosto dele. — Você está tremendo!
— Não ouse machucá-la, seu cachorro sarnento!
— Jake, o que foi?
Sem dizer nada, Jake apertou meu celular, quebrando-o como se fosse de brinquedo. Ele tremia convulsivamente.
— Bella, me espere aqui. Tenho que ir, mas volto logo. Não saia até eu voltar, ok?
— Você está me assustando, Jake. — disse, apavorada.
— Não se preocupe. Eu volto logo. — Ele disse me dando um selinho rapido.
Jake saiu correndo. Ouvi a porta batendo e fui até a janela. Vi Jake correndo para a floresta e desaparecendo. Logo depois, ouvi um uivo ensurdecedor, me apavorando ainda mais. Corri e tranquei todas as portas e janelas da casa, sentando-me na cama, esperando pelo pior.
Mais de uma hora se passou e Jake não voltava. Deitei-me e acabei adormecendo.

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