Pov de Bella
"A Besta" é o lado animal, o impulso monstruoso que jamais pode ser domado. Não importa o quanto se tente, ela sempre vence, obrigando a cometer atos obscenos em nome da sobrevivência.
A manhã estava fria em Forks. Me levantei com um cansaço que parecia mais uma constante em minha vida. O primeiro dia de aula na faculdade não me animava. Por volta das oito da manhã, meu celular tocou, e depois de uma busca frenética entre os livros de história espalhados pelo chão, finalmente o encontrei.
— Fala, Ângela.
— Estou na frente da sua casa.
— Nossa! Estou atrasada?
— Calma, amiga. Só passei aqui pra irmos juntas pra faculdade.
— Já estou indo abrir a porta.
Desliguei o celular e o joguei na cama. Corri para abrir a porta e Ângela entrou, rindo. Conheci Ângela há dois anos em Seattle, quando ela passava as férias na casa da tia, mãe do Marcelo. Marcelo e eu nos conhecemos no último ano do colégio e agora estávamos no segundo de História. Desde então, Ângela e eu nos tornamos inseparáveis, especialmente agora em Forks.
— E o Marcelo? — Perguntei do banheiro.
— Nem sei se ele vai hoje, tomou um porre ontem na festa do Kalil.
— O Marcelo é doido. Não sabe beber e cai nas ideias fracas do Kalil.
— Eu avisei, mas ele nunca me escuta. — Ângela disse, entrando no banheiro.
— E por que você não foi?
— Você sabe que não saio à noite.
— Dois anos de amizade e nunca te vi sair à noite. Do que você tem medo?
— "Dele".
— "Ele" quem? Você vive falando isso, mas nunca explica. Medo de uma sombra que viu em um sonho?
— Você nunca entenderia.
— Tenta explicar.
— Mesmo que goste de histórias sobrenaturais, não entenderia. Nem eu entendo.
— Você não é vampira, consegue sair ao sol... Então é um lobisomem? — Ângela riu.
— Você já dormiu comigo em noite de lua cheia, esqueceu?
— Amiga, assim fica difícil. Vai me deixar curiosa?
— Se eu te dissesse que tenho 50 anos, acreditaria?
— Claro que não. Vai me dizer que é uma fada? Um elfo?
— Ângela, você tem cada ideia! — Eu ri.
Enquanto eu terminava de me arrumar, Ângela preparou nosso café. Fomos para a faculdade, e já próximas ao bebedouro...
— Não olha agora, mas o Kalil está vindo.
— Esse cara é um mala. — fiz careta.
— E gostosinho também. — Ângela disse maliciosamente.
— Oi meninas. — Kalil disse, sedutor.
— Oi Kalil. — Ângela respondeu com um sorriso.
— Oi. — respondi secamente.
— Sua festa bombou ontem!
— Que festa do Kalil Kesller não bomba? — Ele disse convencido. — Seu primo não estava bem quando saiu. E você? — Olhou para mim. — Não foi por quê?
— Tenho mais o que fazer do que dançar e beber. — Respondi sarcasticamente.
— Adoro quando me maltrata. — Ele disse, tocando meu rosto.
— Você não tem mais o que fazer?
— Algum problema, crianças? — Fernando perguntou, zombando.
— Sim, seu filho me perturbando como sempre.
— Feio, filhinho! Perturbando alunas não é bom para seu currículo de garanhão!
— Depois conversamos, Bella. — Kalil disse, sem graça.
Assim que ele saiu...
— Custo a acreditar que essa criatura é seu filho.
— Bella!
— Mas é verdade, Ângela!
— Realmente não sei a quem ele puxou. — Fernando riu.
O sinal tocou e fomos para a sala. A aula seguia normalmente até que o professor Fernando nos deu um exercício e me chamou para conversar.
— Podemos conversar?
— Aqui? — Olhei ao redor.
— Vamos para a sala do reitor.
Seguimos para a sala do reitor. Como ele não estava, Fernando pediu para não sermos interrompidos.
— Descobriu alguma coisa? — Perguntei curiosa.
— É estranho. Você não se encaixa em nenhuma descrição sobrenatural.
— Sou a primeira da minha espécie?
— Nunca encontrou alguém como você?
— Não, não me relaciono muito.
— Não fique assim, meu anjo. Vamos encontrar uma resposta.
— Anjo... — Eu disse amarga. — Já estou quase acreditando que sou um.
— E os sonhos? Têm acontecido frequentemente?
— Sim.
— Estou virando noites tentando achar uma resposta.
— Eu sei, professor. Não estou culpando você.
— Se tivesse mais dados de seus pais...
— Só sei que minha mãe morreu no parto. Fiquei com um amigo dela, mas ele morreu quando eu tinha 6 anos. Fui para um orfanato e saí com 18. Charlie me adotou e me registrou com seu sobrenome.
— Ele fez bem em não colocar o sobrenome de seus pais. Vou procurar nos registros antigos. Não vou desistir. Vamos antes que pensem bobagem.
Depois das aulas, fui direto para casa. Tomei um banho e assisti TV, até que a noite chegou. Queria sair, mas estava receosa. Estava preparando um lanche quando a campainha tocou, me assustando.
— Ângela não ligou. — Estranhei. — Kalil?! Como me achou?
— Oi para você também. — Ele disse, sorrindo. — Isso é para você. — Ele entregou um buquê de rosas.
— Obrigada. — Peguei o buquê. — Mas o que faz aqui?
— Vim te convidar para sair.
— N-não... Não posso! — Eu disse, apavorada.
— Por que não?
— É que eu...
— Porque ela já vai sair comigo. — Marcelo apareceu. — Pena, chegou tarde.
Enquanto eu colocava as flores em um vaso, Kalil e Marcelo conversavam.
— Posso saber para onde vai levá-la?
— Vamos jantar fora.
Coloquei as rosas no vaso e fui pegar água, depois me juntei a eles.
— Vamos? — Eu disse, com a chave na mão.
Depois de trancar a casa, fomos ao carro de Marcelo.
— Da próxima vez eu te ligo antes.
— Ok.
Nos despedimos e Kalil foi embora.
— Pronto. Agora ele não vai te perturbar mais.
— Conheço ele. Está nos esperando no final da estrada para nos seguir.
— O que faremos?
— Vamos sair.
— Tem certeza?
— Sim.
Marcelo decidiu ir a um restaurante italiano. Em vinte minutos, estávamos no restaurante. Depois que Kalil nos seguiu, Marcelo soube do que ele era capaz. Já acomodados, Marcelo pediu vinho enquanto esperávamos nossos pedidos. Até que a noite estava agradável. Marcelo afugentou meu medo de sair à noite.
❦
Pov de Edward
Os homens da família Cullen estavam em uma limusine, em reunião com os Volturi. Eu estava cansado de ouvir sobre os problemas com lobisomens. Enquanto Carlisle tentava conversar com Aro, eu observava a paisagem. Luzes, pessoas nas ruas, cheiros misturados. Até que me cansei.
— Vocês são patéticos!
— Edward! — Carlisle me repreendeu.
— Aro procura alguém que nem sabe se sobreviveu! Quer nos obrigar a procurar! E os lobisomens estão matando vampiros! Aqui é nosso território, está infestado de vampiros! A cidade é pequena, isso não vai dar certo!
— Edward tem razão. — Disse Emmett. — Procurar uma mulher que não conhecemos é como procurar uma agulha no palheiro! E os vampiros em Forks vão nos denunciar! Não é você que diz que temos que manter a ordem? O que estão fazendo? Nada! Dizem que os lobisomens são a desgraça para nossa espécie, eu digo que são a salvação! Sem eles, a cidade estaria um caos!
— Diz isso porque têm um acordo com esses cachorros imundos! - Disse Aro com arrogância.
— Não gosto da ideia, mas fizemos isso para sobreviver em paz! - Disse Carlisle.
— Por favor, pare o carro. — Eu disse, irritado. — Vou andar um pouco.
— Edward.
— Cansei de discutir, Carlisle.
— Deixe-o, Carlisle. — Aro disse cinicamente. — Em breve ele ocupará seu lugar em Volterra... Tem que se divertir agora.
Assim que a limusine parou, desci e nem olhei para trás. Só de pensar que Alice e eu estávamos sendo obrigados a nos juntar aos Volturi, isso me indignava. Era isso ou a morte para minha família. Eu caminhava entre a multidão quando um cheiro inebriante me chamou a atenção. Segui o cheiro, cada passo intensificava a sensação.
❦
Pov de Bella
Marcelo e eu já havíamos jantado e conversávamos quando de repente me calei.
— Você tem que ir embora agora! — Eu disse, olhando ao redor.
— O que foi? — Marcelo perguntou, preocupado.
— É para seu próprio bem, vamos! — Eu disse, ficando em pé.
Marcelo pediu a conta enquanto eu olhava ao redor. Assim que ele pagou, fomos apressados para a saída do restaurante.
— Você está bem? Está me assustando!
— "Ele" está aqui. — Eu disse, ainda olhando ao redor.
— Ele quem?. — Perguntou Marcelo sem entender.
Ignorando-o, puxei Marcelo até o estacionamento.
_ Por favor, vá embora. Você estará mais seguro longe de mim.
_ Mas!...
_ Vai logo. Amanhã nos vemos na faculdade, não se preocupe.
_ E você? - perguntou preocupado.
_ Eu tenho que ir a um lugar. - Menti. - E, por favor, não me siga.
Saí apressada, caminhando em direção à minha casa, que ficava do outro lado do parque. Marcelo passou por mim, buzinando, e eu apenas assenti com a cabeça. Meus olhos vasculhavam os arredores, o medo crescente apertando meu peito como um vício antigo que eu nunca conseguia esquecer.
À medida que me aproximava de um beco, a sensação de ser observada se intensificava. De repente, ele apareceu. A cerca de cinco metros de mim, um rapaz de cabelos cor de bronze, tão belo quanto ameaçador, estava parado. Era como se o mundo inteiro tivesse desaparecido, deixando apenas nós dois na rua. Seus olhos fixos nos meus, surpresos, enquanto o pavor gelava meu sangue. Algo nele me parecia familiar, mas não de um jeito reconfortante. Era um reconhecimento que vinha com o gosto amargo do medo.
Nós nos encaramos por um momento que pareceu uma eternidade. Então, ele sorriu. Um sorriso que não tinha nada de amigável, mas transbordava ameaça. Meu instinto de sobrevivência assumiu o controle e, sem pensar, comecei a recuar. Quando ele começou a caminhar em minha direção, virei-me e corri como se minha vida dependesse disso – e talvez realmente dependesse.
Atravessando a rua, meu coração batendo freneticamente, corri o mais rápido que pude, os passos ecoando na noite silenciosa. O medo me impulsionava, me cegava, até que percebi estar em uma rua deserta. O silêncio era ensurdecedor, quebrado apenas pela minha respiração ofegante. O pânico me dominou e eu sabia que, onde quer que ele estivesse, ele estava me caçando.

0 Comments:
Postar um comentário